Exposição do Gabriel Massan (Terceiro Mundo, a dimensão descoberta) na Pinacoteca de São Paulo, na Pina Contemporânea
Museus de todo o mundo têm registrado um aumento de público, o que tem sido colocado, dentre muitos outros fatores, como turismo e aumento de fomento, também na conta da arte-tecnologia e do uso de recursos digitais. A possibilidade do aumento de público indica questões tanto relacionadas ao interesse despertado por esses novos objetos-intervenções quanto porque, em decorrência disso, os ambientes museais estão passando a ser frequentados por públicos que antes não se relacionavam com esses aparelhos, aumentando as reflexões flamejadas nesses ambientes.
As exposições imersivas, vertente da arte digital contemporânea, são, com suas grandes instalações em shoppings e aparatados ambientes instagramáveis, o suco do capitalismo. Pelo menos agora uma massa considerável de pessoas sabe, ou pelo menos deveria saber, quem foi Van Gogh, apesar de muitos terem passado direto pela seção de textos para chegar à sala de girassóis e, finalmente, ao grande espaço principal destinado às projeções. O mercado do entretenimento ganha (e como!), mas também ganham os museus, cujo público, o qual parece ter se multiplicado na busca por exposições e salas imersivas, acaba encontrando, para além disso, objetos de interesses outros.
Qualquer hora dessas, as fotografias e vídeos desse tipo de exposição, que ainda são a coqueluche do momento, podem chegar à categoria do old, porque a casa da cafonice é bem ali. Mas a arte se reinventa (o mercado nem se fala!) e há muito mais a ser visto na linha da arte-tecnologia.
Exposições e mostras de new media art, cujas obras são produzidas e projetadas por meio de tecnologias de mídia eletrônica, têm dominado museus e espaços culturais com montagens cada vez maiores, mais interativas e com temas diversos, que vão desde coleções de obras cujo objeto é a própria humanidade ou as formas pelas quais a tecnologia impacta a vida humana; passando por aquelas que tecem críticas sociais e ao mercado de arte; até as comentadas há pouco, destinadas ao puro entretenimento.
Apesar da possibilidade de a arte-tecnologia ainda parecer inusitada aos visitantes não frequentes, há uma mudança de percepção quanto à transição do antes futurístico ao corriqueiro presente, mesmo que as obras e intervenções continuem objeto de curiosidade e espanto.
Além disso, há uma mudança na forma de observação da tecnologia em museus. Se nos museus arqueológicos a tecnologia, suporte permanente à existência humana, aparece em pontas de lança e outras ferramentas utilizadas há milhares de anos, nos museus de arte contemporânea a tecnologia marca presença com seus mais recentes refinamentos e apropriada pela forma artística, não mais com foco em sua utilidade. E assim, na construção ou no incêndio de pontes que interconectam passado, presente e futuro, a arte parece cumprir seu papel.
Cibele Alexandre Uchoa , Escritora e Pesquisadora. Mestre e Doutoranda em Direito Constitucional pela Universidade de Fortaleza, com bolsa da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico – Funcap. Sócia-fundadora do Instituto Brasileiro de Direitos Culturais – IBDCult
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